Gazeta Mercantil - 19/06/2000

Marcos de Moraes vai muito além do ZipNet
Daniele Madureira
de São Paulo

 

Marcos de Moraes tem tido pouco tempo livre nos últimos quatro meses. Apesar de não ocupar mais o comando do ZipNet - portal idealizado por ele, adquirido em fevereiro pela PT multimedia, braço do grupo Portugal Telecom -, seu telefone não pára de tocar. Do outro lado da linha, jovens da geração pontocom, interessadíssimos em fazer de Moraes um sócio de peso. Não é por menos: com a venda de 89% do controle do ZipNet ( o restante pertence ao Unibanco), por US$ 365 milhões, ele se tornou um verdadeiro chamariz para quem tem várias idéias na cabeça e quase nenhum crédito bancário.

"Recebo pelo menos três ligações diárias sobre novos projetos na área de internet. Eu agradeço e descarto a marior parte, mas, às vezes, fico com medo de perder uma boa oportunidade", diz Moraes, que criou o ZipNet há quatro anos, com o ZipMail, o mais popular e-mail gratuito brasileiro, com 3,5 milhões de assinantes. Sucesso suficiente para fazer com que o filho do ex-rei da soja, Olacyr de Moraes, deixasse de ser conhecido pelo nome do pai para conseguir credencial própria.

Hoje, ele é presidente do conselho do ZipNet, sem funções executivas. Mas seu faro para novos projetos o deixam bem distante de uma aposentadoria milionária e precoce. Depois que concluiu a venda do portal, o executivo de 33 anos já adquiriu 4% do Banco1 (instituição financeira virtual, e que tem como sócios o Unibanco e a Portugal Telecom) e comprou 10% da e-Platform, uma incubadora de novos negócios em internet, onde nasceu o site BuscaPé, que busca e compara preços do varejo on-line.

A última tacada foi concluída semana passada, com a compra de 10% da editora Trip, que tem dois produtos principais: uma revista de mesmo nome, voltada ao público jovem, com tiragem mensal de 70 mil exemplares, e a "Daslu", publicação especial para 28 mil clientes que compõem o mainling list da grife. A versão on-line da "Trip" já estava ospedada no ZipNet, respondendo por um dos maiores índices de page views do portal: 3,5 milhões mensais, no levantamento de maio.

De acordo com Moraes, o interesse no negócio partiu dele. "O público alvo da "Trip" faz parte de um segmento de grande potencial, que me interessa muito. Acredito que editora possa servir como plataforma para uma empresa de mídia." Paulo Lima, sócio-diretor da Trip, afirma que o seu "target" é composto, basicamente, de homens, dos 18 aos 35 anos. "Mas as mulheres significam 25% do meu público, e a faixa etária também extrapola. Recebo cartas de leitores de 92 anos."

Com o novo aporte de capital - com valor não revelado - a editora, que faturou US$ 10 milhões em 1999, já ensaia o lançamento de duas novas publicações. Ao mesmo tempo, negocia com dois grandes investidores para incrementar os títulos "Trip" e "Daslu". "No segundo semestre, devemos lançar o "bembacana.com", portal da Daslu para um público sofisticado, com jornal diário e foco em e-commerce".

A "Trip" tem uma forte inserção junto ao público adolescente. A equipe da revista presta consultoria de criação para o programa "Caldeirão do Huck", da globo, com sugestões de pautas, entrevistas e temas para debate. Segundo Moraes, a originalidade da publicação - que não acredita ter concorrentes diretos nesse nicho - foi um fator decisivo. "Esta é a minha visão de negócio: meu primeiro objetivo não é ganhar dinheiro, busco modelos diferentes do que todo mundo está fazendo. Qualquer um que queira apostar na nova economia precisa ser criativo, para conquistar um público fiel."

Moraes se diz orgulhoso com resultado da primeira auditoria da web brasileira, divulgado na última semana pelo Instituto Verificador de Circulação. "O ZipNet conquistou o terceiro lugar na raça, só perdendo para provedores controlados por grandes grupos de mídia e telecomunicações". Agora que o mesmo aconteceu à sua ex-empresa, e ele já tratou de fechar diferentes negócios em tempo recorde, Marcos de Moraes vai se dar a um luxo: "Saio de férias por três semanas. Nem acredito."